Em meados do século XVI o Chile começou a produzir vinhos no Vale do Itata. Adiante, no século XVIII, estudos de solo revelaram potencial em outra região do país, o Vale Central. Tal descoberta convergiu toda a tecnologia para a região, deixando o Vale do Itata esquecido, mas resguardado em sua potência. Há apenas trinta anos, as expedições da família Torres redescobriram esse vale, que oferece uma conjunção singular para o cultivo de uvas viníferas no mundo.
Além dos campos abandonados manterem parreirais de uvas centenárias, o clima seco somado ao vento gelado, à boa incidência de luz solar e solo vulcânico, se converte em um meio de cultura perfeito para o cultivo natural. A retomada do Vale do Itata, com a finalidade de produzir uvas viníferas, ocorreu de forma “rústica”, sem desmatar o que já existia e, ainda, agregando ao solo videiras jovens.
Assim, na cidade de Concepción, próxima ao lago Villarica e vulcão de mesmo nome, dá origem aos rótulos La Causa, que trazem consigo o sabor de uvas cujas parreiras de quase trezentos anos se misturaram às novas, para resultar em vinhos peculiares, estruturados e, ao mesmo tempo, com certa leveza, já que tem médio corpo, o que ainda deixa espaço para o sabor de frutas na boca.
Como isso é possível? Imaginem o balanço que essa conjunção de fatores rende de aveludado à uva Cinsault, uva predominantemente rústica, capaz de originar vinhos leves para médio corpo, com taninos elegantes, notas de frutas como ameixa, especiarias e frutas secas. Pensem no quão sedoso são os roses derivados dela!
Dimensionem o quão frutados são os vinhos feitos a partir da tradicionalíssima País, cultivada quase hegemonicamente no Chile, desde meados do século XVI, que retornou ao mercado há 30 anos, depois de longo período fora dele. Ela rende vinhos com médio corpo, taninos muito elegantes, macios, com explosão aromática de frutas e com notas bem maduras! E alcancem a intensidade conquistada pelo blend ou mistura da Cinsault, País e Carignan – essa última, com mais espessura, corpo, maciez, classe e finesse, com todos os taninos pronunciados, de maior estrutura!
Experiência imperdível e também incomparável.
Debora Breginski
Sommelière Vivavinho